quinta-feira, 26 de julho de 2012

Nada


   Pá-pá-pá. Bateram no vidro.
.   
   Rafael nem olhou para o lado. Estava prestes a entrar em sua garagem.
.  
   A impressão de superioridade que queria causar era mais do que evidente. E não era de agora. Foi sempre assim, seja no jeito de se vestir, de falar, de trabalhar, de espancar um mendigo até a morte, mesmo que tenha sido apenas uma vez, e somente um momento divertido da adolescência, ou até mesmo na maneira de ignorar seguidos golpes na janela do seu carro.
.  
   Pá-pá... PÁ. 
   Quando ele ameaçou inclinar a cabeça para checar a situação, uma mão armada e estranha invadiu o carro, rompendo o vidro e acertando-lhe na têmpora, manchando de sangue o banco de couro da sua BMW. Sem tempo de reagir, acordou dentro de casa. Amarrado. O rosto estava coberto por um véu líquido e vermelho. Conseguia distinguir dois vultos enacapuzados estuprando sua mulher. E não era um simples estupro, era violento, eles penetravam todos os buracos possíveis de sua esposa, com qualquer objeto que estivesse ao alcance.
.   
   Sangue espirrando na parede e no rosto de Rafael.
.   
   Ele não conseguia acreditar que uma simples corda, no momento, era superior a ele. Tentou se desamarrar várias vezes, em vão. O terrível ménage não parava e não parecia ter hora para acabar. Ela, amordaçada, tinhas seus urros abafados. Rafael já não tinha mais esperanças. Parou de lutar. Ao mesmo tempo, os maníacos pararam com a orgia. Sem enrolar muito, passaram uma navalha no pescoço da vítima e a deixaram de lado, em uma poça vermelha, como uma criança que cansa de brincar com seu carrinho de controle remoto e vai assistir TV.
.   
   Entreolharam-se e partiram para o lado de Rafael.
.  
   Ele, agora compreendendo a real insignificância do ser humano, percebeu que o nada sempre vencerá o tudo.